15 novembro 2010

Som vermelho

Onde eu coloco?
Onde eu coloco?
Som sem voz e a raiva que grita dentro de mim
E grita forte
Onde eu coloco?
Todo caldo é quente
Quem te viu já sabe
Sou voz sem grito, sou grito
Grito alto!
Alguém que tem escuta escuta
Sou fúria de verbo
Vazio por dentro e por fora
De fúria cheia de nada
De nada cheio de fúria
O grito me explode, uma faca que vai cortando de dentro para fora
Esse muro invisível de insegurança
Muro de nada
Sou porco de carne
Sou pouco de alma
Sou torto de olhos

Quero o outro, quero externo
Na margem do ser
Quero cor de burro quando foge
Deixo marca, demarco
Doi em mim, doi no mundo
E faço doer
Faço multiplicar o som da dor
Que som tem você?
Que cor tem os seus?
Porque se me fere, tem som e cor
E dessa cor eu fujo
E desse som me surdo
Minha fuga é piar em você
Que cor tem você depois dos meus pés?
Faz um som para você ver!
Seja o que for,
Onde eu coloco você?

Me enlouquece
Me corrói
Não vejo nada além de você
Não vejo nada
Se você é nada, não vejo nada
Não vejo
E para sair para luz grito além
Grito além de mim
Corto o mundo, esfaqueio meu amigo
Esfaqueio meu inimigo
Meu inimigo é você
Meu inimigo sou eu
Meu inimigo é você dentro de mim
Você em mim é dor

Cheia de cor
Cheia de som
E vazio, sou vazio
Grito com você
Porque você não grita comigo?
Sou mudo?
Sou cego?
Sou sem você quase sem você
Se pisar grita
Se correr pisa
Se girar corre
Corre para bem longe
Porque se eu perceber você por perto
Farei do nosso mundo todo
Um pior do que o pior que ele já é

(São Paulo - 01/06/2010)