23 dezembro 2008

A-VI-ÃO

Aqui
Onde tudo acontece
E nada me acontece
Eu sou não
E nós
Antes da última volta
Da saída pela porta
Somos só ilusão

Comissários
Preparem para decolar
Essa Pessoa não conheceu.
Meu ponto no espaço
Minha alma cansada
Imoralmente desapareceu

Sou secreto
Ou coragem
Sou seleto
Ou vulgar

Não me importa, sou caminho
De troca, de salto, de voto
Escolho o que como
Escolho o que gosto
Entre ruas, e pistas e rotas
Descubro que em tudo nada me sobra
Sou eco do vácuo
Sem asa nem cauda

(São Francisco - 16/11/2008)

17 dezembro 2008

Dispenso

Nem lembro mais do devaneio da manhã
Era algum sonho, algum ponto de encontro
Sofri todas as ações do tempo do dia de hoje
E voltei a outro ponto de encontro
Será este outro mesmo?
Por que não o mesmo?
Me pergunto se a faca da razão
Não me corta o fio da liberdade que resta
E imerso num pensar sem fim
Me esqueço de sentir o que sinto
E não sentindo me esqueço de ser o que sou
Sou pensamento perdido
Me sinto perdido
E quando me encontro
(como entre essas palavras)
é porque parei de pensar.

05/08/2008 - São Paulo

10 dezembro 2008

Alto-falante

Grita fala
A boca chora
A boca come
E masca a carne
E cospe fora
E baba rala
E mexe a barba
De pêlo claro
Que tal beijá-la
Beber sua água
Soltar risada
Os lábios riem
Os lábios calam
A língua lambe
E leva lava
De calda quente
Se queima toda
Me morde mesmo
Me suga o sangue
A boca diz
Palavra muda
Si muda a forma
E move a alma
A boca para

05/08/2008 - São Paulo

02 dezembro 2008

Ser Xeique

Ela veio em peitos de sempre
Só que peitos menores vieram
E junto com peitos perfeitos que eram
Outras de ela trouxeram

E em mar de muleres bem quente
Mãos dadas e olhares curiosos
E eu a dizer indiferenças
Com todas sorrindo ao meu lado

Aí tinha uma moreninha
Bem tranqüila e sorridente
As mãos dadas eram ela
(Dadas as dela a mim,
não a minha às dela)

Sou xeique das arábias
Sou simples e alegre
Conto histórias de entretenimento
Conto sonhos de sonhos que invento

05/08/2008 - São Paulo

14 setembro 2008

Hoje

Vivo na encruzilhada do desejo
Escravo de mil fantasias
Eu as crio e nelas me deleito
Sinto da vida todas as delícias

Não posso realizar nenhuma delas
No mundo que acontece fora de mim
Mas dentro do meu pensamento
Vou com elas até o fim

Posso contar história, amar outras fora ela
Matar um homem, mudar meu sexo
Ser imoral, esfaquear meu próprio peito
Flutuar no mar, compor um concerto
Tudo eu posso, tenha ou não um nexo

Hoje eu quero beijar minha amante
E sentir na pele a dor de morrer
Hoje
O mundo infinito do meu pensamento

26/05/2008 - São Paulo

Sonho da reconciliação

Era o amor da minha vida
E uma criança ao seu lado
Já passou, já se foi
Mas só la fora

Aqui em mim ela ainda quer viver
Insiste em aparecer
Me confundir em mil significados
Pergunto o que ela faz aqui

Se ela veio em meu sonho
Está no que há de mais fundo

Lá foi lindo, eu fui até ela
Realizar meu mais escondido desejo
De fazer as pazes com seu coração
E foi que tudo ficou bem
Tínhamos juntos uma missão maior
Seus olhos não quis perder
Sua criança veio e me abraçou
Disse que a impediram de me ver

Agora já acordei e tudo se acalmou.

26/05/2008 - São Paulo

31 maio 2008

A Descida

Hoje eu desci a via em dois ciclos
Um clico na frente e outro de carona
Ligados pela corrente que faz
O vôo dos meus pés
De ágil às ruas
Tão frágil nas palavras
Querendo ligar e relacionar
O lógico com o mole
O imoral com a vida
Flutuam nas rimas
Des-rimas sentidas
Olhando claramente quão longe de lá
Longe está, meu pensar e meu pesar
Sonhos, vertigens, suspiros
Controle de regras fatídicas
De golpes cruzados e vazios
Um sopro de lucidez
Luz e paralepsia
Conversas de um solto no cosmo
Um louco de origem, desnudo, solfista
Filosofia de restos de palha
São crias, são frias e velhas
Fedidas e lindas poesias
No ouro de ouvidos atentos me guio
Me expresso, me roubam a única coisa que resta
Só festa se fazem às minhas custas
Estou preso, direto para o poço me levam
Malditas cuspidas eu levo
Sou bicho, sou néctar divino
Descalço na via que desço
De ciclos e correntes que ligam
Tudo isso, o inferno do dia
Solteiro e legítimo broto de merda
Puríssimo como se apenas pronto
Feito só para servir

25/05/2008 - São Paulo

Sussurro do ser desprezado

Estou apaixonado
mas não aconteceu como eu queria
É a coisa errada
Me sinto preso, encurralado
Obrigado a viver essa história de amor

Tudo começou há pouco tempo
Tinha acabado de sair de uma febre brava
Estava renovado, pronto para o novo

Então ela veio, me tirou da minha vida
Lentamente se apossou de mim
Sem que houvesse de mim a menor percepção
Me seduziu com promessas
Me deu sombra e águas calmas
Me viciou

Agora não quero mais, já sei disso
Mas não posso sair de repente
Não quero sofrer
Não posso decepcioná-la
E nem sei para onde ir

Afinal, ela me dá coisas boas
Então vou me aproveitar dela
Assim como ela se aproveita de mim
Só espero não me viciar mais

Talvez um dia ela mude
Mas eu não devo esperar esse dia chegar
Ah... se ela me deixasse ser o que quero
Se me deixasse livre para sonhar e fazê-la feliz
Mas não! Está muito preocupada com suas coisas
Não tem tempo para mim, nem me olha direito
Nem percebe o quanto sou apaixonado

Isso vai passar, ah vai!
E quando ela perceber, eu já estarei bem longe
Voltarei a ser o que sou
Continuarei minha criação
E meus frutos não serão dela
Terei outra, darei tudo à outra
Isso enquanto a outra deixar
Eu ser o que sou

25/05/2008 - São Paulo

03 maio 2008

Yara

Queria que você se visse
E sentisse o que eu sinto
Seu corpo se derreteria então
Derretido de pão faminto

Não há necessidade alguma
Só seu sorriso já contenta
Mas o coração também esquenta
Inspira leve como pluma

Sabia que seu sussurro é ouro?
Me faz cobiçar como um bravo touro
Te levar no peito pela eternindade

Se quiser a gente inventa
Um mar branco de espuma
Onde amar brinca de verdade

(Caraíva - 28/01/08)

30 abril 2008

Procurando

Estou tentando olhar a dor
É sempre a mesma coisa
Se não saiu como eu queria
Não gosto, não quero
Gasto muita energia
Se foi tudo maravilhoso
Me exalto, me apego, quero mais
O que foi bom se vai
Gasto muita energia
Mas qual a razão de viver então?
Não consigo abdicar
Tenho medo desse desconhecido nada
Não posso acreditar no que me parece ser real
O fato de não haver alguém em mim
O que aconteceria se eu fosse fundo?
Enlouquecido num objetivo sem objetivo
Morreria antes de medo
De não ser quem eu penso ser
Estou todo errado
Brincando de ser
Jogando com as sensações que vem e vão
Mas e se for certo isso
Se houver sentido de ser assim
Uma brincadeira, somente um jogo complexo e gigante
Sem começo nem fim

(São Paulo - 01/04/2008)

26 abril 2008

A morte é uma violência?

Somos a morte a todo momento
A morte que cala, a morte que fala
A morte que anda, a morte que para
A morte que come, que morre de fome
A morte que canta, que morre de medo
A morte que acorda e morre mais cedo
A morte que sonha, a morte que vive
A morte da vida, a morte que morre

(São Paulo - 09/04/2008)

Do que é que se trata

Só trabalho de trabalho
Que trabalho me esbugalho
Quebro o galho me atrapalho
Mas não falho nem me canso

Tem reunião de reunião
Que reunião não abro mão
De discussão aprovação
E solução não tem descanso

Não sei dormir só produzir
Mais investir me instruir
E progredir pra onde ir
Não vou medir nenhum esforço

Para parar paralizar
De trabalhar vou disparar
Do chão pro ar me preparar
Pra programar roendo o osso

Sou animal que toca o pau
E não faz mal não ter sinal
No meu ramal de alguém normal
Isso é legal e não é pouco

Trabalho assim não é pra mim
É que compus sombra sem luz
Você já viu é como um rio
Um não sem til correndo louco

(São Paulo - 10/03/2008)

Meditação

Pra cantar e ser ouvido nessa vida
Só gritar não adianta
Tem que ser mais do que isso

Nem Enfeitar bem por fora não resolve
Nem melhora pois na alma
É que está o que importa

Se a tua alma é de artista e sonhadora
Vem me abraça e vamo'embora
Isso é tudo que preciso

Com você e pelo mundo eu faço agora
Me acabo, me esfolo
Mas eu chego onde quero

Você veio pr'esse mundo qual motivo
Deve haver senão criarmos
Algo novo e muito belo

Só criando e refletindo o que se cria
Desfazendo e refazendo
Todo tempo é precioso

Sua ordem é liberdade pensamento
Pé na arte e mãos pra cima
Põe poesia no teu dia

Eu só tenho uma certeza tudo muda
Vai girando tudo passa
Se transforma a toda hora

Tanto o bom e agradável
Quanto o ruim e doloroso se acaba
Seja cedo, seja tarde

O que traz muitos prazeres vai embora
E o que causa dor intensa
Passará da mesma forma

O segredo, como disse o velho mestre
É olhar o que acontece
Sem querê-lo diferente

(São Paulo - 15/03/08)

26 março 2008

Uma amiga

Você está ao meu lado
Bem agora no momento que preciso
É tudo que podia ter me dado

E eu te agradeço com a alma
Você nem sabe o valor que te dou
Me fazendo ficar nessa calma
Que depois dessa conversa me tomou

De repente da inspiração vazia
Voce me touxe o êxtase da emoção
Devolveu a mim minha própria vida
Acalentou e iluminou meu coração

(São Paulo - 22/11/2007)

05 março 2008

Índia

Se no futuro você for meu pensamento
Será presente para aquele momento
Será fogo para aquecer a alma
Lembrarei de você se estiver longe
Para saber onde o amor se esconde
E sua imagem me trará calma

Mas não nego imaginar
Que nosso futuro não será só sonho
Queria você ao meu lado para sempre

Ouvir baixinho o seu falar
Pra ter isso não me envergonho
Só tenho um medo de tentar
E convidar para que entre

Esses seus gestos singelos
Bilhetinhos de puro carinho
Ficam formando vários elos

Meu corpo vai-se dissolvendo
E arrepios tomam conta
Você já ficou tonta?
É bem isso que estou vivendo
Desde que cruzou o meu caminho
Uma índia de um jeitinho
Que eu não sei, mas aprendo

(Caraíva - 30/01/08)

25 fevereiro 2008

Doce Separação

Não deu para esperar seu tempo
Mas como ele volta e nem é seu
Eu volto, outra vida tento
Você não aguarde, lhe busco, lhe acho

Tudo que imaginamos não houve no mundo
Mas vivemos nos sonhos
Fique com seus sonhos, eles são lindos
Os meus por você também foram
Se o real não bateu, o que foi real serviu

Um ramo de flores lhe ofereço
Um olhar profundo que não tivemos
Leve meu olhar e o perfume das flores
Estou certo de que continuará linda

Lhe sou cordial, voto no bem
Um abraço bem quente e demorado
Um laço invisível de carinho
De mim para você

(São Paulo - 19/02/2008)

Transição

Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não!
Não! Não! Não!
Acordei gritando...

(São Paulo - 07/02/2008)

16 fevereiro 2008

Hoje o mundo pode acabar

Acordei no dia da criação
Levantei meus olhos para o céu
E pedi, preparei meu coração
Embrulhei com laço e papel

Disse então que de olhos em fechados
Ficaria assim até quando for
Até o dia do fim do mundo
E o abriria só pra ver o que restou

A primeira luz que quero ver
É da tua voz cantando ao meu lado
Isso é tudo que eu queria ter

Hoje o mundo vai acabar
Hoje o mundo pode acabar
Não me importa, eu tenho você

(São Paulo - 14/02/08)

Fim do mundo I

Vou fechar os olhos
E abrir antes do fim do mundo
Quando isso for
A primeira imagem
Que quero ver
É a de você
Ao meu lado
Aí o mundo pode acabar

(São Paulo - 10/02/08)

Casa das Sombras

Paralisei depois do sono de milhares de léguas
Cansei de andar tamanha distância
No emaranhado de pesadelos não tive trégua
Nem pela dor de passar por minha infância

Pensei que não conseguiria nunca mais me levantar
Encurralado na casa do sonho
Corri, abri, bati, tranquei e segurei as portas
Esse ritmo de medo não acompanho
Soltei um grito mudo com as mãos no pé do ouvido
Meu silêncio não me deixou falar
Acordei crente que desta vez tinha morrido
De que passei ferido de ter vivido
Nada que a gente novamente verá

Depois as amarras foram me abandonando
Em lento movimento me postei falando
Lembrando que o pior passou, se foi
Mas que outra noite certamente voltará

(Caraíva - 02/02/08)

Cem palavras

Chegou o êxtase
É vento e brasa pra tudo que é lado
Roda gira e fica tonto
É sorriso de canto a canto
Salada de cores e cheiros
Doce, simpático
Dos de melhor o melhor
Bofetada para o inesquecimento
O sol de todas as estrelas
É muita, é mais, ainda mais
Um horizonte de agradáveis sensações
Divinas, certas e divinas vidas
Montes de melodias meteoros
Montros da música que arrepia
E arde a pele
Revoo de panos e carne
Com rosto pingado
Um néctar, suco concentrado
Que pega na boca salivada
Leva o céu dentro do céu
Chegou o êxtase

Pequenos Gestos

Tocar suavemente a testa ao acordar
Sentar ao lado para comer
Dobrar um pássaro de papel
Ouvir e escutar
Olhar nos olhos sorrindo
Acompanhar até o portão da casa
Cantar mesmo que desafinado
Ensinar uma brincadeira
Caminhar junto em silêncio
Abraçar com sinceridade
Escrever um poema
Presentear uma flor
Apresentar um amigo
Servir um doce
Mostrar a paisagem
Fazer um desenho
Chamar pelo nome
Elogiar com verdade
Criticar com respeito

(Caraíva - 31/01/08)

09 fevereiro 2008

Vai amigo

Ouça bem meu caro amigo
Que eu entendo o teu pesar
Fiquei doido de chorar
Quando aconteceu comigo

As meninas são assim
Seja a ti ou seja a mim
E a todos como nós
Que se metem a amar

Vai com fé que eu te dou voz
Se esse fogo te queimar
Vale mais o bem viver

Tua moça deve ser
Nesses dias de voar
Uma linda albatroz

(Caraíva - 30/01/08)

Cleópatra

Ontem por exemplo
Aparece uma imagem
Duas ou três palavras
Um monte de sorrisos
Um olhar penetrante
A solidão mais acompanhada
Cleópatra do samba
Causadora de dor e desejo
Simples desejo
Vento que leva soltos fios
Ventre quente sol feito
De pelos loucos castanhos
E sangue de paixão
Um tormento de alcova
Repuxa as águas de dentro
Dissolve a alma e sublima o corpo
Condensa o peito de flor
Enforcando a cor
Só taquicardia e fôlego rouco
Língua de ponta por cima
Abaixo gosto maluco sem senso
Jogado do cosmo ao lápis
O pensamento estraga
E a sensação apaga

(Caraíva - 29/01/08)

O Homem Poeta

Primeiro te trago o sonho para sonhar
Um poeta sensível, verdadeiro, sincero
Com dotes nas palabras que acariciam

Depois te mostro a realidade para viver
Um homem bruto comum, com medos e desejos

Quero que surpreenda a lógica e seja viva
Que me escolha homem
Que me queira fraco
Para que eu seja forte

Talvez assim continue te fazendo sonhar
Mas um sonho acordado
Regado de dor e prazer

Te peço que não prefira nada
Nem a dor da dor
Nem o prazer do prazer
Ambos estarão sempre com você
Se intercalando como fibras

Se há o que preferir
Prefira o que há, como há
Se é sonho, é sonho
Em sendo real, real é absoluto
Rei de não ser não ser

(Caraíva - 29/01/08)

Plano Secreto

Olha só meu plano
Te encontro no mar
Falo qualquer bobagem
Só pra te ver linda
Todos vão estar olhando
Mas não terei nenhum respeito
Ficarei te admirando
E de lá juntos sairemos
Te mostrarei essas palavras
Sem medo da sua reação
Pode ser todo boa ou toda ruim
Ou pode ser nenhuma
Mas meu plano se concretizou
E nós vivemos juntos ele
E você nem sabia de nada
Eu tenho um plano agora
Quer saber?

(Caraíva - 28/01/08)

Só você

Procurar quem?
Nada disso
O que que é isso
Fique aqui
Tome sombra
Ué, não foi?
Ah que bom
Só você?
Ainda melhor
Quer ver?
Cade você?
Estou na sombra
Se vier
Venha aqui
Olha só
Viu?
Sou eu
Pra você
Só um pedacinho
De você?
Pode ser... só você?
Pronto, só você!

(Caraíva - 28/01/08)

O Pintor de Sonhos

Dormi na certeza de que tenho os piores defeitos do mundo
Ao amanhecer andei pelas ruas de areias frias e fundas
Depois de sonhar três ou quatro vezes coisas sem sentido
Renaci de novo como outro de mim mas sem perder nada
Os mesmos defeitos se fizeram mostrar lindos e desafiadores
Por eles sou vivo, eles formam um longo e suado caminho
Quando tiver forças passo por eles deixando para trás
Quando não tiver, eles que venham até mim e me esfolem
Cada brisa nova me fará companhia nessas noites
Suavizando por dentro e dando leve contorno

(Caraíva - 28/01/08)

Mineira

Não sei nada de você mineira
Mas fico ouvindo seu cantarolar
Sabe esse jeito lindo de falar
E sorrindo assim é a primeira

Posso parecer estranho agora
Mesmo alguém me sendo parecido
Se as estrelas lhe mostrei lá fora
Algo nosso fôra construído

Um abraço te roubei depressa
Um sonho que do céu então desça
E floresça por eu ter partido


Não queria mas eu fui embora
Apaixonado pelo acontecido
E que a noite você me apareça

(Caraíva - 27/01/08)

Casamento

Cada grão
Cada poeira
Todos os pós
E míseras partes e pedaços
Soltos e únicos e separados
Longe, bem longe, sem toque, sem cor
Cada gota e gota de gota
Quase nada aos olhos, nada aos olhos
Uni-vos todos e todas e tudo
Num abraço de braços, mil braços
E corpos de corpos, mil corpos
Juntai-vos num eterno laço
Gotas com gotas num imenso oceano
Pedacinhos de areia num planeta colorido
Tocai-vos todos a todas e tudo
NMum toque sem tempo, sem fim
Ocupando o espaço vazio
Casai-vos todos com todas e tudo
Cada casamento mais casamento
Retornando assim ao único ser

(27/01/08)

08 fevereiro 2008

Parecia Mentira

Dentro desse barco
Que atravessa rio acima
Muito longe da cidade
Clima só de alegria

Escuta aqui menina
Já não posso esperar
Em dizer pra toda barra
Que é você que eu quero amar

A viagem que até ontem parecia mentira
Caraíva e você é o melhor da Bahia

(26/01/08 - versão refeita da música Europa 2000 em parceria com Daniel Chamis)

Ser Grande

Não tenho troco
Não trabalho com miudezas
E tudo que faço
Tem tamanho gigante
Nas travessas por onde passo
Sempre toco o que posso

Se tiver uma chance
Me transformo em lenda
Ou talvez algum conto
Sem trocar de intensão

Meu tipo é coragem de ir
Pro topo do mundo
Num trem de possibilidades

Sou totalmente verdade
Mas tranquilo na ação
Quando tento e não consigo
Só tiro conclusões
Fico triste e observo
Que há toda uma razão
Para ter acontecido
Então termino em paz

Meu testemunho da vida
É turqueza e laranja
Um tremendo por de sol
De tirar lágrimas dos olhos
Sem tempo para acabar

Vivo temperado de poesia
Cada trecho tem seu sabor
Uns tormentam os ouvidos
Outros tateiam a alma
Em tom de cantiga

O troféu de mais bonito
Já tive de abdicar
Porque tem alguém que me inspira
Apenas traduzo as sensações em palavras
Quem transmite a realidade
Esta trancado dentro de nós

(26/01/08)

22 janeiro 2008

Nada

Queria ser nada
Mas só de querer já sou alguma coisa
Então como ser o que quero
Sem querer ser
Se eu não quiser não serei

Então não quero nada
Em não querendo sou nada
Exatamente o que quero ser
Mas sou sem querer
Não quero e sou
Mas queria não ser
Não quis e fui
Queria e não sou

E sabendo que nada sou
Já sou novamente
Então não quero saber de ser nada
Eu já não sei
Se não sei, não quero
Sem saber querer não sou ser

Não posso ser nada
Queria poder saber não ser
Mas se pudese ser
Se pudesse não querer seria saber não ser
Então poderia não ser
Sem poder, sem querer, sem saber, sem ser
Seria o que posso, o que quero, o que sei e o que sou
NADA!

(22/01/2008)

Servindo de Longe

Eu te vejo linda
Mas será que você é
Seja noite ou dia
Sem servir o meu café

Impossível de ser
Sempre flor perfumada
Mas possível talvez
Se for desarrumada

Pra mim basta saber
Que te quero só pra mim
Nem preisa me querer

Porque é sempre assim
Você não será minha
E te amarei só por ser

(22/11/2008)

21 janeiro 2008

Soneto do reencontro

Um dia me perdi num mar verde
Me lembro como se fosse hoje
A sereia, as pedras, o fogo
Revivendo o tempo não se perde

Então ela surge novamente
Mil vezes mais linda do que era
Sabe aquela coisa que se sente
Quando o presente é mais do que se espera

Corre logo e diz pra bela
Meu anjo sussurra em meu ouvido
Como o canto dela produzido

Naquela ilha meu porto é ela
A principal lá e aqui dentro
Minha dor mais uma vez enfrento

(20/01/2008)

09 janeiro 2008

Viajar

Vá visitar as cavernas
O escuro há de fascinar
Mas volte para a luz
Ou você para de voar

Também nas montanhas
No campo de flores
Você deve ir, fundo no
Lago de barro, de algas de cores

E a queda da água
Na pedra, na areia,
No suúrbio da cidade
De faca afiada, visite a cadeia

Não esqueça também
Da brisa de sol, do brilho do mar
Parar de conhecer a vida
É parar de viajar

Pegue o próximo trem
Pare de cavar
Porque se do pó você veio
Para o pó você há de voltar


(1998?)

Escravos de uma sociedade

Ser escravo de uma sociedade
Simple é parar de pensar
Partir numa louca viagem
Buscar a verdade, ou simplesmente chorar

Abrir as portas, fechar os olhos
E sonhar, ir para o campo
Sem vida, sem nome
De paredes brancas e teto azul

Subir as escadas sem descer
Os degraus de pedra escorregam
Você, aberto, se fecha
E eles mandam, te ordenam

Volte para a mamãe
Criancinha malvada
É o que dizem pro menino
Surdo mudo, de cabeça raspada

É isso que faz da vida
Uma grande caçada
Que vença o melhor escravo
Na fuga da nossa cenzala

(1998?)

06 janeiro 2008

Eu gosto

Surgi daqui e de lá
Partirá alguém que conhece
Todos os lugares por onde
Passei, sei não, acontece.

Veria o estranho e o chamaria
Vem cá senhor, me guia
Estou voando, então sorrindo
Loucuras, Sonhos, Dividindo

Trovejando, a luz do mar
Espanta as cores e diz
Corra, agora, ela quis
Não pôde, lá fui eu, ajudar

Quando com tudo de joga
Numa tentativa de proteção
Em tudo, para sempre, em vão
Vamos, ou não?

Estou esperando. Nome?
Karinho vindo de alguém
Importante para o mundo
Livre, mais do que ninguém

Isso vai marcar, inda' bem

(escrita em mar/1999, encontrada em jan/2007 colada por dentro do corpo do meu violão)