31 maio 2008

A Descida

Hoje eu desci a via em dois ciclos
Um clico na frente e outro de carona
Ligados pela corrente que faz
O vôo dos meus pés
De ágil às ruas
Tão frágil nas palavras
Querendo ligar e relacionar
O lógico com o mole
O imoral com a vida
Flutuam nas rimas
Des-rimas sentidas
Olhando claramente quão longe de lá
Longe está, meu pensar e meu pesar
Sonhos, vertigens, suspiros
Controle de regras fatídicas
De golpes cruzados e vazios
Um sopro de lucidez
Luz e paralepsia
Conversas de um solto no cosmo
Um louco de origem, desnudo, solfista
Filosofia de restos de palha
São crias, são frias e velhas
Fedidas e lindas poesias
No ouro de ouvidos atentos me guio
Me expresso, me roubam a única coisa que resta
Só festa se fazem às minhas custas
Estou preso, direto para o poço me levam
Malditas cuspidas eu levo
Sou bicho, sou néctar divino
Descalço na via que desço
De ciclos e correntes que ligam
Tudo isso, o inferno do dia
Solteiro e legítimo broto de merda
Puríssimo como se apenas pronto
Feito só para servir

25/05/2008 - São Paulo

Sussurro do ser desprezado

Estou apaixonado
mas não aconteceu como eu queria
É a coisa errada
Me sinto preso, encurralado
Obrigado a viver essa história de amor

Tudo começou há pouco tempo
Tinha acabado de sair de uma febre brava
Estava renovado, pronto para o novo

Então ela veio, me tirou da minha vida
Lentamente se apossou de mim
Sem que houvesse de mim a menor percepção
Me seduziu com promessas
Me deu sombra e águas calmas
Me viciou

Agora não quero mais, já sei disso
Mas não posso sair de repente
Não quero sofrer
Não posso decepcioná-la
E nem sei para onde ir

Afinal, ela me dá coisas boas
Então vou me aproveitar dela
Assim como ela se aproveita de mim
Só espero não me viciar mais

Talvez um dia ela mude
Mas eu não devo esperar esse dia chegar
Ah... se ela me deixasse ser o que quero
Se me deixasse livre para sonhar e fazê-la feliz
Mas não! Está muito preocupada com suas coisas
Não tem tempo para mim, nem me olha direito
Nem percebe o quanto sou apaixonado

Isso vai passar, ah vai!
E quando ela perceber, eu já estarei bem longe
Voltarei a ser o que sou
Continuarei minha criação
E meus frutos não serão dela
Terei outra, darei tudo à outra
Isso enquanto a outra deixar
Eu ser o que sou

25/05/2008 - São Paulo

03 maio 2008

Yara

Queria que você se visse
E sentisse o que eu sinto
Seu corpo se derreteria então
Derretido de pão faminto

Não há necessidade alguma
Só seu sorriso já contenta
Mas o coração também esquenta
Inspira leve como pluma

Sabia que seu sussurro é ouro?
Me faz cobiçar como um bravo touro
Te levar no peito pela eternindade

Se quiser a gente inventa
Um mar branco de espuma
Onde amar brinca de verdade

(Caraíva - 28/01/08)